sexta-feira, 3 de novembro de 2017

VEREDAS

aos poucos, a inspiração vai abrindo uma vereda no matagal do esquecimento. adiante, há um princípio de incêndio, ateado pela ignorância, que não se deve debelar com lágrimas. ingenuidade concluir que tudo possa ser eliminado com lisuras. a passos firmes aproxima-se do alvo para pisar com firmeza no núcleo dessa rebelião preguiçosa. o que poderia fazer o capitão umbigo contra o general de todos os poros? acaba de ser cooptado. 

virginia finzetto

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A REFORMA DO ANO

de janeiro a fevereiro
abriu vaga no puteiro

em março
perdeu o cabaço

em abril
farejou o covil
abriu as pernas

maio junho julho
abriu mão da carteira
de trabalho

em agosto
assumiu o posto
promovido
a capitão do mato

setembro outubro
novembro dezembro
amputou cada membro

no réveillon
matou seu cérebro


virginia finzetto

poema sujeito a reformas...

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

TÓXICO

rastros que vi no céu
não são de incontinência de anjo
nem de pó de pirlimpimpim,
aceno de pomba da paz
ou de avião supersônico

eles hipnotizam humanos
que seguem para o matadouro
é rebanho infectado

toca gado... tô cagado!

virginia finzetto

TERMOS

tem sido assim, eu meio tímida tentando afagar as palavras enquanto elas fogem de mim. reunidas em pequenos grupos, elas me espreitam de longe. vejo o risinho sarcástico de algumas, as lágrimas que molham a serifa de outras. o disfarce das mais queridas misturando fontes e tamanhos para dificultar minha escolha. o que mais dói é enxergar a sentença formada pelas minhas prediletas, acenando recadinhos de sarcasmo e de deboche. apenas as de baixo calão ficam aos montes, insinuando-se em desfile, dando-se de graça, aproveitando a ocasião em que são usadas em massa por quem as colocou nessa situação. olho para elas com desânimo. saber que até essa fama é efêmera, pois a cada dia elas estão mais presas à cadeia banal de significados. torço para que o alfabeto se organize e faça uma revolução. 

virginia finzetto

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

DESEMBESTA!

ilusão enjoada
esse sobe e desce
inferno e céu
do movimento que oscila
sem sair do lugar

aprecio mais
o desembestar
de um unicórnio sem destino
do que o carrossel
a girar

virginia finzetto

terça-feira, 24 de outubro de 2017

ADEUS, AMIGA!



Madrid me mata! As unhas mostram o desapego, estou desfusionada e deixei para trás um pedaço do passado a limpo. Eu só não podia imaginar que a Amparo* já não estaria mais comigo nesse resgate. Daquela verdade que sabemos, todos, que um dia alcançará cada um, mas estamos distraídos com tantas falsas pressas e vaidades. O esmalte sai, as lembranças mostram o véu das quimeras, mas a morte é impávida e não está nem aí para o seu lamento. Urgência continua sendo pra mim a palavra mais atualizada.









virginia finzetto

* em memória de Amparo Garcia Paredes, amiga inesquecível. que um dia possamos nos encontrar em outra calle, de luz, pois que a alma é perene e reconhece suas afinidades. eterna gratidão, cariño.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A VIDA É UM CURTA

quando eu vim ao mundo

ele era uma grande teta

virou um grande quintal

se transformou em um grande hospício

hoje está mais para hospital

temo que vire um grande cemitério

virginia finzetto