domingo, 1 de outubro de 2017

ENTRE DAMIEL E POULAIN

fui dormir mais tarde, fora do horário rotineiro e acordei atrasada. não havia energia elétrica e minha cachorra com incontinência urinária já dava os sinais de aperto gotejando por todo o apartamento, enquanto eu procurava uma caixa de fósforos para esquentar a água do café. confiro a bateria do celular e o 3G me permitiu o primeiro contato: sinto muito, não irei à reunião. em 20 minutos tudo muda e eu já estava me decidindo pelo contrário. desci 14 andares pelas escadas, corri até o ponto, peguei o primeiro ônibus, desci e corri para pegar o metrô, no destino certo desci e andei 8 quarteirões e eis que chego exatamente (quando digo isso, significa nenhum minuto a menos ou a mais) no horário combinado. no metrô dei 2 reais para uma idosa que entrou no vagão pedindo ajuda para comer, mas declinei o apelo do moço que entrou na estação seguinte para vender Mentos, olhei com ternura até às lágrimas o jovem rapaz sentado adormecido com a boca aberta, ajudei um senhor cego a tomar o Ônibus Terminal Amaral Gurgel e me comovi de novo com a senhora pálida desabafando em palavras seu desconforto de saúde e sua consulta médica. a reunião durou uma hora e foi um sucesso. não somos do mundo. estamos no mundo. talvez durante um tempo que seja para entender apenas uma palavra, uma frase ou uma vida inteira. quer saber? a vida é muito intensa quando não estamos distraídos.

virginia finzetto

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